CENTRO DE COMPETÊNCIAS DO AGRO ALIMENTAR PARA O SETOR DAS CARNES

CIDADE HOJE (CH) – Que importância atribui à distinção de que VN Famalicão é alvo como Região Empreendedora Europeia? Paulo Cadeia (PC) – É sem dúvida muito importante. É um prémio de reconhecimento a toda a atividade empreendedora que a região tem vindo a desenvolver e vai permitir uma projeção internacional do empreendedorismo desta mesma região. Uma projeção através da promoção de uma agenda de ativi- dades e eventos que vão colocar a região ao nível das mais empreendedoras da Europa.
CH – De que forma os Centros de Investigação, como o TEC- MEAT, contribuem para o reconhecimento/desenvolvimento científico e tecnológico de uma região?
PC – Os centros de investigação não serão os únicos players a contribuir para o desenvolvimento científico, mas são, sem qualquer dúvida, entidades chave. Dotada, a região, de um dos maiores centros tecnológicos europeus, o CITEVE com foco no têxtil e vestuário, o lançamento em 2020 do TECMEAT, com foco na Indústria das Carnes, é bem demonstrador do empreendedorismo da região. Sendo estes dois dos principais setores da região, ambos suportados agora com o seu centro tecnológico, complementados com outras entidades do sistema científico na região (tais como as universidades), temos todos os condimentos para, com o tecido empresarial, continuarmos a empreender, a investigar e a desenvolver novos produtos e processos mais inovadores.
CH – Desde a apresentação do Centro que passos foram dados para a sua plena funcionalidade?
PC – O TECMEAT resulta de um projeto que começou a ser executado em 2020, o qual incorpora a implementação de laboratórios e
de uma unidade piloto. A primeira apresentação publica, em setembro de 2022, com a conferência internacional MEAT MEETINGS’22, permitiu dar a conhecer esta instituição ao tecido empresarial e ao meio científico. O ano de 2023 foi de conclusão da implementação da sua infraestrutura e do licenciamento, assim como, da contratação de investigadores. Estamos preparados para este ano oferecer um conjunto de serviços e ativi- dades às empresas assim como desenvolver novas linhas de investigação com outras entidades do sistema científico e empresas.
CH – Como é que as empresas estão a aderir?
PC – Muito positivamente e, sobretudo, surpreendidas com a potencialidade das nossas instalações, em particular com a unidade piloto. Temos, de fato, um número de empresas, quer da indústria do processamento de carnes quer outras indústrias que gravitam à sua volta (ex. representantes de equipamentos ou fornecedores de condimentos) que nas diversas visitas já realizadas, têm ficado admiradas com a capacidade instalada no TECMEAT. A recetividade tem sido tão positiva que diversos protocolos de cooperação estão já a ser delineados para 2024.
CH – De que forma estão a desenvolver o trabalho de investigação e que serviços oferecem às empresas?
PC – Ao nível da investigação estamos em 3 projetos PRR, um deles, a Agenda Mobilizadora para o Agroalimentar – VIIAFOOD – onde somos responsáveis por testar e desenvolver produtos cárneos 3D. Já nos outros 2 projetos, ao nível da Bioeconomia, centramo-nos nas simbioses industriais entre o setor das carnes e o têxtil e vestuário – o projeto BE@T liderado pelo CITEVE; e um outro, no de
senvolvimento e testes de biofil- mes poliméricos para o setor alimentar, liderado pelo Cluster das Resinas – o projeto RN21. Em termos de serviços, o TECMEAT está preparado para a realização de testes e ensaios avançados e controlo de qualidade no produto, para a realização de l&D + Inovação orientada para o desenvolvimento de novos produtos e serviços e, ainda, para formação em ambiente laboratorial e empresarial.
CH – Quantos investigadores trabalham no centro e de que Universidades são provenientes?
PC – Temos atualmente 3 investigadores, um doutorado e 2 mestres nas áreas de biotecnologia e alimentar. As suas formações provêm da Universidade do Minho e Universidade de Aveiro. Contamos, obviamente, crescer durante os próximos anos.
CH – As empresas demonstram abertura aos investigadores?
PC – As empresas demonstram cada vez mais abertura para trabalhar com investigadores, no
meadamente investigadores de centros tecnológicos, universidades ou laboratórios colaborativos. Contudo, ter as empresas abertura para que investigadores incorporem os seus quadros, não será uma questão de abertura ou confiança, mas sim, de dimensão da empresa. Muito dificilmente se justifica, financeiramente, a incorporação de investigadores em micro ou pequenas empresas, tipologia predominante no setor das carnes. Quanto às médias e grandes, essas já possuem não apenas investigadores como até departamentos ou unidades de l&D.
CH – Que parcerias e colaborações existem com outros centros tecnológicos?
PC – As parcerias existentes são de fato um ponto forte do TECMEAT, a começar pelos seus sócios fundadores, pois temos centros tecnológicos, clusters e associações. Por exemplo, ao nível do agroalimentar, o TECMEAT tem trabalhado, numa grande proximidade, com o Cluster para o Agroalimentar – Portugalfoods, assim como com o Colab4Food no de
senvolvimento de vários trabalhos. Estamos a estudar outras parcerias que possam ser importantes ao nível de transferência de tecnologia e/ou ações de demostração, tais como estabelecer parcerias com representantes de equipamentos. Não podemos deixar de salientar também, todo o apoio e aposta que a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão tem demonstrado para com o TECMEAT.
CH – Que desafios enfrenta o setor das carnes?
PC – Muitos deles são semelhantes a outros setores. A sustentabilidade e a circularidade, a rastre- abilidade, o clean label ou, ainda, a digitalização. São áreas em que todos procuramos acompanhar e as implementar. O aumento da competitividade, por meio de inovação tecnológica, a redução de custos de produção e o aumento da eficiência produtiva, são também desafios que os setores procuram responder. No setor das carnes, temas como a fraude e segurança alimentar, a redução de açucares e gorduras, as proteínas alternativas ou, ainda, os novos perfis dos consumidores, são desafios particulares do setor.
CH – A formação dos colaboradores nas empresas está ao nível das exigências do setor?
PC – A falta de oferta formativa prática é uma das razões pelo qual o TECMEAT foi criado. O setor agroalimentar, em particular, o da indústria do processamento das carnes, não dispunha de nenhum centro dotado com uma unidade piloto capaz de disponibilizar meios técnicos e tecnológicos para dar formação em contexto prático. Atualmente, a indústria forma, quase sempre, em contexto de trabalho, causando entropias diversas nas suas linhas produtivas. Esta situação é ainda mais premente com a recorrente necessidade de formar novos colaboradores e, em particular, os imigrantes que têm chegado à região para trabalhar. O TECMEAT está apto para responder a este desafio e elevar as exigências da formação técnica ao setor.
CH – Os produtores de animais estão ligados a este centro?
PC – Os produtores de bovinos, suínos, aves, etc. estão diretamente ligados a este centro na medida em que fazem parte da cadeia alimentar. O bem-estar animal, a sua alimentação, o rastreamento de toda a cadeia, são preocupações não apenas do consumidor, mas também dos produtores e transformadores. O TECMEAT, obviamente, não poderia descurar este ponto tão importante pois é aqui que tudo começa.

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