Em Tresminas, terra de intensa atividade mineira aurífera entre os séculos I e II d.C, a resina natural de pinheiro-bravo é o novo ouro, que, sob a forma de colofónia e a aguarrás, gera emprego, dá rendimento aos baldios e ainda previne os incêndios rurais.

Estamos na terra do Complexo Mineiro Romano de Tresminas, local onde os romanos exploraram o ouro durante mais de 200 anos. No entanto, agora, o ouro que se extrai é outro. A Junta de Freguesia de Tresminas, que gere dois baldios, e os compartes de outras duas aldeias, cederam vários hectares de pinhal-bravo a um consórcio formado por uma empresa do setor e por outros parceiros para aextraçãoderesina e atividades complementares, como a gestão de combustíveis. O consórcio é localmente apoiado pela associação florestal Aguiarfloresta. O negócio, que dá 20 por cento da receita às comunidades locais, gera emprego e ainda mantém limpa uma mancha florestal que durante anos esteve à mercê da voracidade dos incêndios. A prevenção começa na preparação dos terrenos para a exploração da resina. “Na área onde nos encontramos, tivemos de diminuir a densidade de pinheiros para melhorar a produtividade de cada um”, explica André Ferreira, engenheiro agrónomo de apenas 22 anos, natural da terra, que coordena os trabalhos de exploração de resina natural
em áreas comunitárias de pinhal de quatro aldeias. Junto a um pinheiro-bravo em que foi aberta, há poucos dias, a “bica” – a primeira incisão ou ferida rasgada no tronco. “Começamos por baixo e vamos subindo. Podemos fazer até sete renovas por ano”, acrescenta, referindo que “se for feita uma boa prática, dá para explorar a mesma face durante três anos”. Se o diâmetro do tronco permitir, corta-se outro lado do pinheiro e o processo repete-se com a mesma sequência, de baixo para cima. “Há pinheiros que dão resina durante seis, nove, ou até 12 anos. Tudo depende do diâmetro”, esclarece.
O método de extração, ao contrário do que se pensa, “não prejudica a árvore”. “Pode demorar alguns anos, mas a árvore regenera-se. A resinagem não leva à morte do pinheiro, nem afeta o valor da madeira. Neste pinhal vamos conseguir retirar a resina durante anos e, no final, ainda temos cá o produto”, explica o técnico.
Em Tresminas trabalham a tempo inteiro oito pessoas, numa freguesia rural onde predomina a atividade agrícola e pecuária. “Três são resineiros a tempo inteiro e os outros cinco são
resineiros e sapadores, porque fazem a gestão de combustíveis durante boa parte do ano”, diz André, já que “durante o inverno o pinheiro não produz, por estar em pausa vegetativa, é como nas árvores de fruta”. Teresa Magalhães é uma das mais antigas a trabalhar na floresta. Começou como resineira, há 12 anos, no entanto agora dá apoio à equipa de sapadores florestais que conciliam o seu tempo com a exploração da resina. “Este trabalho pode parecer pesado, e às vezes é, mas já estou habituada”, recorda a chefe de equipa.
Fileira da resina alavancada por fundos do PRR
O “ouro líquido” que escorre lentamente para púcaros ou sacos entre os meses de março e outubro após o processo natural de destilação dá origem a dois produtos: a colofónia e a aguarrás. Depois de transformada, a sua utilização pode ser em colas, vernizes, tintas… e até em pastilhas elásticas.
Portugal, que chegou a ter meia centena de fábricas de resina ativas, viveu “anos de ouro” da transformação deste produto. “Já
fomos o segundo maior produtor mundial de resina”, recorda Duarte Marques, que preside à Associação Florestal e Ambiental de Vila Pouca de Aguiar (Aguiarfloresta), referindo-se às décadas de 70 e 80 do século passado, com produções na ordem das 100 mil toneladas/ ano. “Mais tarde, por questões de competitividade, a produção caiu muito”, continua.
Hoje, por causa das alterações climáticas, “que levaram à substituição das matérias- primas por alternativas mais sustentáveis”, Portugal voltou a apostar na fileira da resina natural, uma das três, a par do calçado e do têxtil, apoiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) no âmbito da transição climática.
É neste contexto que surge o
consórcio RN21, com sede na Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), liderado pelo CoLAB ForestWISE, que abrange toda a cadeia de valor e aposta na “transição para uma economia mais sustentável”. Focado na formação e inovação, o projeto reúne 37 entidades, como empresas transformadoras de resina, organizações de produtores, comunidades intermunicipais, universidades, laboratórios, entre outros.
De acordo com a Resipinus – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina, a produção anual de resina em Portugal ronda, hoje, as sete mil toneladas, o que não chega a 10 por cento das necessidades da indústria. A matéria-prima é importada, sobretudo, de países da América do Sul.

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