Pinhão e resina: é possível conciliar as duas produções?
Embora já existam produtores florestais a conciliar a produção de pinhão e resina nas suas áreas de pinheiro-manso (Pinus pinea L.), as implicações que a resinagem pode ter na quantidade e nas propriedades do pinhão são pouco conhecidas, razão pela qual o tema começou a despertar a atenção de investigadores portugueses. Neste contexto, um estudo realizado na Herdade da Esteveira, em Alcochete, indica que é viável produzir pinhão e resina, sem que a resinagem afete a composição química e a segurança alimentar do pinhão. As conclusões foram dadas a conhecer na tese de mestrado “Efeito da resinagem na composição química do pinheiro-manso”, realizada no ISA – Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, após vários anos de ensaios em que se recolheram pinhas de árvores resinadas e não resinadas e se analisou a composição química dos respetivos pinhões. “Não se observaram diferenças na composição química de pinhões provenientes de árvores resinadas e não resinadas” refere José dos Lóios Angelino na sua tese, feita sob a orientação das professoras Paula Soares e Ana Alves. O método de resinagem mais comum em Portugal (e na Europa) requer a aplicação de um estimulante para retardar a cristalização e, assim, aumentar o tempo de escorrência da resina. Este estimulante, que é aplicado na zona das incisões, pode conter ácido sulfúrico, pelo que outra das questões em estudo era determinar se haveria vestígios deste ácido nos pinhões de árvores resinadas. Também aqui a resposta foi negativa: “não se observaram quaisquer vestígios de ácido sulfúrico nos espectros dos pinhões de árvores resinadas”, o que reforça a possibilidade de produzir pinhão e resina numa mesma árvore. A pasta estimulante aplicada nas incisões para fazer fluir a resina contém ácido sulfúrico, embora estejam já a ser testados ácidos biológicos que possam ter o mesmo efeito estimulante e que acarretem menos risco para a atividade. Este é um trabalho que está a ser desenvolvido pelo projeto Integrado RN21 – Inovação na Fileira da Resina Natural para Reforço da Bioeconomia Nacional. Em paralelo estão também a ser testados métodos de resinagem mais eficazes e que promovem maior pureza da resina recolhida, como a resinagem em bolsa fechada. Rendimento em pinhão é influenciado pela resinagem? Mais dados são necessários Outra das hipóteses estudadas foi se a resinagem do pinheiro-manso afetaria o rendimento em termos de miolo de pinhão. Para o efeito analisou-se a produção das árvores resinadas e não resinadas considerando o rendimento em pinhão branco relativamente ao peso das respetivas pinhas verdes. Curiosamente, as árvores resinadas apresentam maior rendimento do que as não resinadas. No entanto, este resultado necessita de ser validado com mais dados, pois neste estudo não foi possível fazer a análise do rendimento das árvores resinadas antes de se iniciar a resinagem, de modo a conhecer as diferenças de rendimento de cada uma antes e depois. Assim, para aprofundar o efeito da resinagem no rendimento em miolo de pinhão (também chamado de pinhão branco), o estudo sugere a instalação de parcelas permanentes em povoamentos de pinheiro-manso, para que se possa fazer esta avaliação comparativa ao longo de vários anos. Como uma pinha demora três anos a formar-se e este ensaio terminou na campanha de 2021/22, não foi possível recolher pinhão em quantidade suficiente para se realizarem testes de palatibilidade (paladar), pois esta campanha correspondeu a um ano de contrassafra, isto é, de baixa produção. Recorde-se que várias espécies, incluindo os pinheiro-mansos, intercalam anos de contrassafra com outros de maior produção de fruto – os anos de safra. Por isso, também nesta vertente são necessários estudos adicionais, que incluam análises sensoriais e estudos de palatibilidade para determinar se são identificadas diferenças de aspeto e sabor entre pinhões de árvores resinadas e não resinadas. Embora ainda com algumas questões a aprofundar e confirmar, os resultados deste estudo vieram demonstrar que é seguro e viável conciliar duas produções, criando uma dupla fonte de retorno para os proprietários que investem em pinheiro-manso. Outro estudo de 2022 – o Potencial de Resinagem em Portugal – reforça a ideia de que a exploração conjunta de pinha, pinhão e resina é uma fonte de proventos a considerar, numa lógica de multifuncionalidade dos espaços florestais, mas adverte que faltam modelos silvícolas especificamente orientados para a coprodução de pinhão e resina. Resina com valorização crescente Em Portugal, o pinheiro-bravo é, por excelência, a espécie resineira, mas com o aumento da área de plantação de pinheiro-manso – que passou de 120 mil hectares para 194 mil entre 1995 e 2015, de acordo com o 6.º Inventário Florestal Nacional (IFN6) – tem-se verificado um aumento da resinagem desta espécie: estimou-se que 2 mil hectares de pinheiro-manso fossem já resinados em Portugal (cerca de 7,7% da área total resinada), em 2021. “Será de prever que a proporção de resina de pinheiro-manso continue a aumentar nos próximos anos em Portugal” refere a Resipinus – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina, que justifica a tendência com a necessidade de compensar a redução da área de pinheiro-bravo. No âmbito de um outro projeto – o SustForest Plus – foram também instaladas parcelas e feita a resinagem de alguns pinheiros-mansos em dois locais. Na Herdade da Esteveira, em Alcochete, os pinheiros-mansos resinados produziram uma média de 4,6 quilogramas de resina por árvore em 2018 e de 5,2 quilogramas em 2019, embora com variações muito expressivas de árvore para árvore. Na Chamusca, o valor médio de resina obtido foi menor, 2,1 kg por árvore, revelou o estudo “Potencial de Resinagem em Portugal”. Já o preço médio do quilograma de resina tem evoluído de forma positiva, de acordo com dados do INE – Instituto Nacional de Estatística: manteve-se acima de 1,3 euros entre 2021 e 2023, um limiar nunca alcançado até então e que denota uma valorização significativa face ao que se registava nos 20 anos anteriores. Por exemplo, em 2003, o preço por quilograma era apenas de 0,42 euros e em 2013 tinha aumentado para 1,09 euros. Nos últimos anos, a quantidade de resina produzida tem registado flutuações significativas: as maiores
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