Cerca de uma dúzia de oradores de várias áreas de atividade trocaram ideias sobre o potencial de recursos que poderão funcionar como uma tábua de salvação para o InteriorLúcia Reis

“Um dos maiores legados que o JF sustenta é o da preocupação com a região e o seu futuro, jamais se resignando a aceitar, como certa, a débil condição coletiva como uma suposta maldição, imposta pela interioridade”, afirmou Nuno Francisco, diretor do JF, na abertura das Jornadas da Beira Interior que decorreram, no dia 15, no Alcaide, integradas no “Míscaros – Festival do Cogumelo, subordinadas ao tema “Agricultura, Floresta e Energia”. “Aqui, há terra fértil para se plantar o futuro. Sempre houve e continuará a haver. Mas para isso é precisa aquela força motriz que passa por uma estratégia de desenvolvimento destes territórios, dotando-os de condições para que possamos cumprir as nossas obrigações”, acrescentou, assegurando que que o JF “jamais abdicará do seu ADN, que o tornou uma publicação de referência da imprensa portuguesa”.
O presidente da Câmara do Fundão, Paulo Fernandes, sublinhou o interesse das jornadas como “um evento de construção de conhecimento e partilha de informação” e deu conta de que a Câmara do Fundão se prepara para criar uma área demarcada de cogumelos silvestres na Gardunha para preservar e valorizar este complemento do rendimento das famílias, ajudando, simultaneamente, a proteger a serra dos incêndios.
Fernando Martins, diretor da Unidade de Agricultura e Pescas da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), felicitou o JF por honrar o legado de compromisso com a região, promovendo estas jornadas, dando depois conhecimento que a CCDRC tem à disposição um conjunto de instrumentos que serão disponibilizados para a produção agrícola encontrar as vias de financiamento indispensáveis à sua modernização.
O primeiro painel das jornadas foi dedicado à “Floresta, Rentabilidade e Ordenamento”, tendo sido moderado por Celestino Almeida, professor coordenador da Escola Superior Agrária do IPCB.
Da Pinus Verde, Marisa Monsanto apresentou o organismo a que preside, dando conta dos 26 anos de vida desta associação sem fins lucrativos, que promove o desenvolvimento florestal e rural. “É uma ferramenta ao serviço de uma comunidade e um território, promove os usos múltiplos da floresta e aproveita os conhecimentos tradicionais, promovendo também atividades económicas”, resumiu a dirigente. Pedro Marques, responsável pela gestão das áreas de servidão na REN – Rede Elétrica Nacional, falou da vasta rede de infraestruturas e da rede elétrica, correspondendo a uma autoestrada, com perfil da A1, entre Lisboa e o Dubai.
Flávio Massano, presidente da Câmara de Manteigas, incentivou os habitantes da região a terem orgulho no território. “Não nos resignamos e não desistimos”, enfatizou, criticando que a gestão do território se faça a 200 ou 300 quilómetros de distância e a burocracia reinante, traduzida em programas, programinhas, siglas e coisas avulsas que não se percebem. “Ou lutamos por nós, ou ninguém quer saber”, alertou, incentivando ao trabalho conjunto.
No mesmo tom foi a intervenção de Luís Matias, dinamizador do Plano de Revitalização do Pinhal Interior, que trouxe à memória o “sobressalto cívico” causado pela tragédia dos incêndios de 2017 e criticou a incapacidade portuguesa para planear o futuro. “Somos muito bons a criar planos estratégicos, mas muito maus a planear”, sublinhou. “É fundamental demonstrarmos que sabemos para onde queremos ir, o que queremos fazer e como é que lá vamos chegar”, anotou, lembrando que em Lisboa ninguém contribui com um euro que seja para a preservação e conservação das condições ambientais ou qualidade da água, ao contrário do que faz o Interior.
Também crítico foi Carlos Fonseca, investigador na área da ecologia e conservação e CEO do Colab Forestwise. “O mais fácil é sermos descrentes e não acreditarmos em mais nada porque não conseguimos mudar. Sou um otimista e considero que o facto de estarmos aqui, num evento sobre valorização da floresta, é a prova de que devemos acreditar que é possível”, concluiu.
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